Cerca de um milhão de ocorrências de queimaduras acontecem todos os anos no Brasil. Os dados do Ministério da Saúde servem de alerta no Dia Nacional de Luta Contra Queimaduras.
Reportagem de Flavio Rogério e Gilberto Pereira
Matheus dos Santos está internado para tratar queimaduras em mais de 50% do corpo. Ele se feriu quando caiu em uma fogueira. “Meu começo aqui eu sofri em questão da queimadura, com a dor, desconforto”, lembra o paciente.
Com 23 anos de vida, ele faz tratamento há 10 meses e sem previsão de alta. Mas o jovem já faz planos. “Minha filha nasceu, ela já tem seis meses, eu só vi ela duas vezes. Eu sei que quando eu sair daqui eu vou ser um bom marido, um bom pai, tenho certeza”, afirmou ele.
O Brasil conta com 84 hospitais especializados em tratamento para pessoas que estão com queimaduras, segundo o Ministério da Saúde. No Estado de São Paulo, são 26 unidades como essa em São Mateus, na zona leste da capital paulista, onde, há mais de 30 anos, conta como um centro de referência neste tipo de cuidado terapêutico.
O coordenador médico do Centro de Queimados do Hospital Geral de São Matheus, em São Paulo, Haniel Rocha, destaca: “O número de pacientes internados foram de 277 pacientes no ano ado. São pacientes que ficam durante bastante tempo internados e que são submetidos a diversos procedimentos cirúrgicos durante a internação”.
No Dia Nacional de Luta Contra Queimaduras, um simpósio da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo reuniu especialistas para discutir o tema.
“Quando você me queima, o ideal é você simplesmente jogar água corrente para que a temperatura abaixe e que não evolua para uma queimadura mais profunda e correr para uma unidade de atendimento. Coisa de pasta de dente, pó de café, enfim, não usar isso de jeito nenhum”, completou o coordenador.
Aos oito anos de idade, Bianca Moraes brincava com álcool e teve 70% do corpo queimado. Foi no centro de referência do Hospital São Mateus, que ela se tratou.
“Fiquei três meses aqui, foi onde eu renasci, porque só aqui eu fiz 25 procedimentos cirúrgicos”, relembra Bianca, hoje técnica de enfermagem.
Bianca fez tratamento psiquiátrico por não aceitar a aparência. Hoje, 20 anos depois, ela é casada e tem duas filhas saudáveis, geradas com dificuldade, por falta de elasticidade na pele queimada. Por ser bem cuidada, decidiu também cuidar das pessoas.
“Todo mundo olha para mim e fala assim: ’tudo isso que você viveu dentro do hospital ainda, você quis ser técnica de enfermagem?’. Falei: ’sim, porque é a forma de eu retribuir o que um dia fizeram por mim’. Os pacientes olham para mim e falam assim: ’você é a pessoa mais alegre deste lugar e é assim que tem que ser. Porque a partir do momento que a gente escolhe essa profissão, um cuidado com excelência, com amor, salva uma vida”, concluiu Bianca.